segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Armadilhas e Refúgios!

Oi, Gente!

Depois de um tempinho longe, estamos de volta! Só que agora com as baterias recarregadas após o workshop com Elisa Lucinda, que foi maravilhoso! Ela nos trouxe uma energia extra, mais vontade de trabalhar os poemas e de continuar nessa caminhada de dizer versos.

Agora estamos voltados para o recital "Armadilhas e Refúgios", que é inspirado no poema "No mundo há muitas armadilhas", de Ferreira Gullar. Assim, deixo aqui o poema registrado e a promessa de mais informações em breve.

Bjos Subversivos!


No mundo há muitas armadilhas
Ferreira Gullar

No mundo há muitas armadilhas
e o que é armadilha pode ser refúgio
e o que é refúgio pode ser armadilha

Tua janela por exemplo
aberta para o céu
e uma estrela a te dizer que o homem é nada
ou a manhã espumando na praia
a bater antes de Cabral, antes de Tróia
(há quatro séculos Tomás Bequimão
tomou a cidade, criou uma milícia popular
depois foi traído, preso, enforcado)

No mundo há muitas armadilhas
e muitas bocas a te dizer
que a vida é pouca
que a vida é louca
E por que não a Bomba? te perguntam
Por que não a bomba pra acabar com tudo, já
que a vida é louca?

Contudo olhas o teu filho, o bichinho
que não sabe...
que afoito se entranha à vida e quer
a vida
e busca o sol, a bola, fascinado vê
o avião e indaga e indaga

A vida é pouca
a vida é louca
mas não há senão ela.
E não te mataste, essa é a verdade.

Estás preso à vida como numa jaula.
Estamos todos presos
nesta jaula que Gagárin foi o primeiro a ver
de fora e dizer: é azul.
E já o sabíamos, tanto
que não te mataste
e não vais te matar
e aguentarás até o fim.

O certo é que nesta jaula há os que têm
e os que não têm
há os que têm tanto que sozinho poderiam
alimentar a cidade
e os que não têm nem para o almoço de hoje.

A estrela mente
o mar sofisma. De fato,
o homem está preso à vida e precisa viver
o homem tem fome
e precisa comer
o homem tem filhos
e precisa criá-los
Há muitas armadilhas no mundo e é preciso quebrá-las.